quarta-feira, 27 de outubro de 2010

não - poema instantâneo

e eis que por um instante
tudo que era piada vira poesia


e eis que por um instante
tudo que era colorido
vivo
triste ou belo
vira breu


e eis que por um instante
tudo poderia
ter acontecido

e eis que por um instante
o monte nevado
na paisagem serena
me pareceu apenas
um monte de neve


e eis que por um instante
em meio a tudo isso
eu sou
um monte de instantes


e eis que por um instante
toda solidão do mundo
não me pareceu
suficiente


e eis que por um instante
eu não peguei o trem
e não cheguei a tempo
de ver o seu sorriso
embarcando triste
para os confins da Terra


e eis que pôr um instante
em um papel (ou não-papel)
é quase como
escrever um poema
sem precisar
ser - bom - escritor


e eis que por um instante
tudo me pareceu
tão vão e tão vazio
que talvez fosse melhor
escrever linhas em branco

Observação: esse poema não precisa ser lido nessa ordem, ou em qualquer ordem

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