segunda-feira, 8 de novembro de 2010


No restaurante tocando ao fundo uma dessas sinfonias numéricas
de um desses alemães,
tomo delicadamente o meu drink azul
como o Danúbio.
A mulher da mesa vizinha arruma o cabelo compulsivamente
Nervosa
O amante não chega
O marido pode ficar sabendo
Imagina a cara das filhas quando o pai contar que a mãe é uma piranha. Coitadas.
Entra um homem a passos largos no exato momento que o piano grita em lá maior
Tomo o último gole do danúbio
ergo o braço suavemente
e faço o gesto de mais um para o garçom
enquanto ele providencia outro desses para mim 
levanto, dou um tiro para o alto,
acerta o lustre
- pensei que já não tinha mais essa pontaria -
e outro certeiro na moça da mesa vizinha
Isso é para ela aprender a nunca mais trair o marido
Viro para trás, um tiro no rapaz que entrou por último
Isso é para ele aprender a não atrapalhar a música alheia
Sento novamente
mando tocar outra musica
e o meu danúbio chega lindo,
resplandecente, num copo que
parece querer limitar a sua
infinitude, dou o último tiro:
no copo
Isso é para ele aprender a não querer restringir os poderes dos outros
O drink vai escorrendo devagar pela mesa, pelo chão, buscando seu caminho, fazendo seu curso, até a foz, isso quando se mistura ao sangue preso ao tapete: é o encontro dos mares. O danúbio vai de azul a rubro. Eu levanto, deixo uns trocados na mesa. Vou embora.  Vejo bem onde piso, nada de sangue nas minhas solas. Não posso me esquecer de deixar um dinheiro para o pianista e de comprar mais balas.

Lá fora o Danúbio é mais uma vez azul para os apaixonados

2 comentários:

  1. yes! vc postou! :D
    eu gostei mto desse, sério. tive medo, mas gostei.

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  2. Que sinfonia tocava? kkkkkkkk'
    Demorou pra eu te seguir ein clara? Desculpa...
    você escreve super bem, eu já devo ter dito isso algumas milhares de vezes, mas refoço, você tem muito talento.

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